Salvador Mendes de Almeida " era um jovem normal, como tantos outros, que praticava desporto, futebol, râguebi e adorava mota de água. Vivia a adolescência com muitas saídas, muita diversão, muitas namoradas. Tinha alguns planos de vida, queria seguir Economia, talvez Gestão".
Além dos desportos atrás referidos, também praticava enduro e, nas férias, levava sempre a moto, embora não tivesse carta. Os pais não o deixavam andar na estrada, apenas nas quintas e em propriedades privadas
Uma noite, em 1998, estava num aldeamento privado com os amigos a divertir-se, tendo bebido alguns copos, duas ou três cervejas e, como estava cansado, resolveu voltar mais cedo para casa, optando por levar uma pequena moto da irmã. E aí, num instante, a sua vida mudou. Um acidente, bateu num dos suportes de um placard de publicidade, deixou-o tetraplégico e atirou-o para uma cadeira de rodas. No primeiro impacto sentiu-se derrotado.Estava dependente de outras pessoas para se vestir, para se levantar, para beber um copo de água, para escovar os dentes. Chorou muito, estava decepcionado, não sabendo o que fazer. Sentiu-se sozinho.
Mas, ultrapassado o choque inicial, Salvador passou " a encarar o dia-a-dia numa perspectiva mais risonha.Continuou a estudar,terminou o secundário e foi fazendo fisioterapia. Entrou para a Universidade, licenciou-se em marketing e publicidade".
O regresso à vida foi lento,mas gradual."O primeiro impacto é forte: ir para uma escola, ser o único de cadeira de rodas, depois ir ver o primeiro jogo de futebol entre os amigos e perguntar por que não estou aqui, por que não estou a jogar?. Não é fácil ir à praia e ver as pessoas a correr e a saltar, tenho de pensar em tudo o que já fiz e tenho de me concentrar no que consigo fazer e não no contrário. Há coisas que temos de aceitar, não um aceitar passivo mas activo. O importante é ter uma actividade, não só profissional como desportiva. A mobilidade é fundamental em lesões medulares."
Nesse sentido, hoje, Salvador, tem uma Associação que tem como missão ser uma referência na área da deficiência e um pilar na defesa dos interesses e direitos das pessoas com deficiência e incapacidade motoras. Aos 27 anos, ele está cada vez mais empenhado em dinamizar a associação a que se entrega de alma e coração. "A Associação Salvador tem apoiado diversas pessoas com mobilidade reduzida, através das acções qualidade/vida".
Da mesma forma, Salvador procura diversificar as iniciativas que promovem luta contra a inércia do país e não raras vezes organiza idas a concertos: "Fomos 50 pessoas ver os Xutos e Pontapés, vamos ao festival Super-Bock, Super Rock e, a outro nível, organizamos campanhas de prevenção rodoviária." O país também o deixa a reflectir face à forma como vê os deficientes "Há uma grande inércia e não há uma grande evolução". Nesse sentido, Salvador criou um portal que revela todos os lugares com acessibilidades, em restaurantes, hotéis, entre outros. "É um levantamento exaustivo nas 18 capitais de distrito.Há um mar de oportunidades à nossa volta.Temos de ter boa cabeça."
"A ideia de um programa de televisão, levando pessoas deficientes a enfrentar um desafio inédito na sua vida, a superar os seus próprios limites, há algum tempo que vinha germinando na cabeça de Salvador e hoje mesmo irá para o ar o primeiro programa, às 21.00 horas na RTP".
Este programa é uma lufada de ar fresco, vai mexer com as pessoas que não têm qualquer limitação, vai mexer com as sensibilidades.
O Salvador pode ter ficado dependente fisicamente, mas ficou mais livre de coração e de alma.
No prefácio do livro "Salvador-ser feliz assim" de António Paisana e Salvador Mendes de Almeida, João Lobo Antunes escreve: "Esta é a história de um rapaz que com uma coragem única se fez homem e, porque não perdeu a esperança, se salvou".
Antes do acidente , Salvador conhecia melhor a palavra receber e pouco utilizava o verbo dar. Hoje tem uma vida bastante activa e feliz. Nesta situação valoriza os momentos com a família, com os amigos, os momentos de partilha, de dar um pouco aos outros.
Fonte:Jornal Record.
Já conhecia a história do Salvador e já o tinha
ResponderEliminarvisto na televisão. Vou tentar ver o programa.
Ele é de facto uma pessoa EXCEPCIONAL!!!
Obrigada pelo que escreveu, ele merece.
Olhar para Salvador, é olhar para a vida, é olhar para nós mesmos e constatarmos, que apenas nos enxergamos. Obrigado Salvador por este aprendizado.
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